segunda-feira, 6 de agosto de 2007

PORTFÓLIO #2

por Cristianne Melo e Rennan Ribeiro

Marcas no Cárcere
Eu amo a tauagem,
minha vida é tatuagem.
Se podesse nem dormia noite,
ficava só tatuando.

(Marco Tattoo – Presídio Agrícola do Serrotão/2005)


Quando Carol Lopes me falou pela primeira vez a ideia do projeto multimídia que ela estava dirigindo para conclusão da graduação em Arte e Mídia, pensei com meus botões: “Esse dai é um projeto verdadeiramente ousado e diferente”.
Primeiro por conta do tema, o universo da tatuagem, não aquelas coloridas, higiênicas, com precisão quase que digital e sim das marginais, de cadeia mesmo, feitas com máquinas adaptadas com motor de gravador e tintas de caneta bic.
Segundo pela abordagem que ela pretendia dar ao projeto. Nada de analisar os signos presentes nas tatuagens de cadeia ou buscar explicações sociológicas ou psicológicas para o ato de tatuar. Mas deixar que as tatuagens e seus suportes, no caso os presidiários, contassem suas histórias através de fotografias e depoimentos de áudio e vídeo.
Outra coisa que me chamou atenção foi a articulação na estrutura multimídia do projeto. Multimídia com “M” maiúsculo, interativo, não linear, integral, bem diferente de alguns projetos que eu vinha observando anteriormente, onde se acreditavam estar construindo multimídia fazendo um vídeo, um site e umas poucas peças gráficas.
Uma pena é que não fui o orientador desse projeto, mas sabia que ele estava em boas mãos. Mesmo assim participei informalmente da sua gestação dando dicas e compartilhando com Carol a paixão por fotografia e tattoos. Também tive o orgulho de participar da banca de avaliação a convite do orientador Luciênio Teixeira.
A banca por sinal superou minhas expectativas. Realizada em uma pequena sala do CUCA a exposição era composta de fotografias no tamanho A3 espalhadas aleatoriamente, impossibilitando qualquer trajetória linear. No meio da sala havia uma mesa com Discmans tocando continuamente o depoimento dos fotografados a respeito das tatuagens e outros temas. Era instigante tentar adivinhar qual daqueles tatuados das fotos era o dono do depoimento que você escutava. Tudo isso tendo como música de fundo um ácido Rap nacional.
“Marcas no Cárcere” realizado no segundo semestre de 2005 no Presídio Agrícola do Serrotão e dirigido por Carol Lopes é uma prova de que pode existir vida inteligente nos projetos de conclusão da graduação em Arte e Mídia.
Faço votos para que a nova geração de Arte e Mídia não caia na mesmice de apenas apontar os defeitos do curso ou fazer pose de diretor de arte e cineasta. O bacana do curso é poder aproveitar do ambiente o que ele proporciona, das parcerias com os colegas e construir projetos, de final de curso ou não, que possam servir de portfólio para uma futura investida no mercado de trabalho.

Sóstenes Lopes.

Um comentário:

Unknown disse...

Realmente... o projeto de Carol tinha cara, jeito e forma de algo além, algo provocativo... repleto de marcas de um lugar e de pessoas que merecem várias e várias releituras.